Acontece nesta sexta, das 16 às 17 h, a segunda edição do projeto “Direito e Literatura: Provocações LGBTQ+”, que é desenvolvido pela Defensoria Pública do Estado do Maranhão através do Núcleo de Defesa da Mulher e População LGBT. A defensora pública e também escritora Lindevania Martins conversará com a escritora, poeta e tradutora Mariam Pessah através do perfil do instagram da Defensoria Pública do estado.
Nascida na Argentina, Mariam Pessah vive há quase vinte anos no Brasil e é autora de três livros. Os dois primeiros são “Malena y el mar”e “Amor, Placer, Rabia y Revolución”. O mais recente é “Grito de Mar”, livro de poemas bilingue publicado pela Editora Taverna em 2019, no qual a mesma fala do cotidiano, da existência lésbica e da violência contra a mulher, entre outros.
A escritora argentina leu seu primeiro livro de temática LGBT quando nem existia a sigla. Não recorda se foi “El diccionario de las amantes”, de Monique Wittig, ou “La pasión”, de Jeanette Winterson, livros que ganhou de presente em seu aniversário de 25 anos. “Naquele momento, idos de 1993 em Buenos Aires, encontrar livros lésbicos ou gays numa livraria era como encontrar um copo d’água no deserto, pelo que essa literatura me abriu um novo mundo”, diz Mariam Pessah.
Graduada em escrita criativa e realizadora do Sarau das Minas, encontro literário voltado para a poesia de mulheres, a história da escritora é atravessada pelas lutas em prol do respeito às mulheres e, em especial, as mulheres lésbicas, temática que aparece fortemente em suas obras literárias e a respeito da qual a escritora enfatiza: “ Meu lado escritora/poeta não escreve sem fazer parte da vida, das ruas, das filas, da faxina da casa e das raivas sociais. Tudo isso me constitui e constitui minha arte. Minha obra não é temática porque nós, lésbicas, como as heterossexuais, vivemos para além do amor romântico e das práticas sexuais. O lesbianismo é um movimento de libertação social e sexual que me constitui como ser social”.
Idealizadora do projeto, a defensora pública Lindevania Martins enfatiza a importância dos encontros: “Estamos trazendo para o projeto autoras e autores que retratam em seus trabalhos literários cenas do cotidiano LGBTQ. Através desses trabalhos, mostramos a sociedade de modo geral que a vida de uma pessoa LGBTQ possui desafios como a de a qualquer outra pessoa, necessitando de respeito, emprego, segurança, liberdade de expressão, entre outros, pelo que deve ser vivida sem o temor de riscos adicionais como esses que vem da intolerância e do preconceito. Pessoas LGBTQs, por outro lado, ao travarem contato com esses trabalhos, se sentem representadas na cultura, representadas por personagem que possuem inquietações semelhantes às suas”.
Nas edições também são divulgadas informações relevantes sobre os direitos da população LGBT e sobre os serviços que podem ser acessados no caso de violação aos mesmos ou para a defesa de seus interesses.
Segue trecho de poema de Mariam Pessah, publicado em “Grito de Mar”:
primeiro foi a visibilidade lésbica
explicar que não morava com uma amiga
mas com minha namorada.
depois foi a vida lésbica
explicar que não namorávamos mais
mas continuamos amigas
e morando juntas.
hoje digo que moro com uma amiga
e as pessoa riem e acham que entendem.
depois chegou a minha namorada
a de hoje
elas se deram bem
não. não namoramos todas
dar-se bem não implica sexualizar tudo.
hoje somos uma comunidade
uma núclea afetiva com
pontes para o lá e o aqui
com patas e gatas que
deixam pegadas
em várias dimensões.